sábado, 21 de agosto de 2010

Paixão, sensualidade e amor – II

Dando prosseguimento à segunda parte de nossas considerações, falaremos de sensualidade, dentro da trilogia que abarca um universo de situações através dessa viagem cósmica que muito nos fascina, sabendo podermos mergulhar nas sombrias paragens dessa floresta obscura do inconsciente, quando nos sentimos flutuar nessa atmosfera mágica em que não temos nada papável para nos agarrar, a não ser, recorremos aos grandes iluminados que, em seus momentos de êxtases, sintonizam-se nas profundezas abissais da superconsciência conseguindo informes de alta preciosidade, nem sempre revelados ao pensamento analítico hodierno.

Trataremos hoje de uma abordagem que, aparentemente, remete-nos a pensar em coisas triviais e de superficialidades quando, na realidade é, no fundo, uma perfeita camuflagem que diz muito respeito à perpetuidade, não apenas como espécie, mas da nossa própria transcendentalidade, à medida que avançamos no processo evolutivo, como se fôramos uma nave espacial, cujos estágios vão se desprendendo ao longo de sua trajetória, queimando etapas em sua ascensão rumo ao infinito,

A natureza é pródiga de exemplos de um fenômeno biológico conhecido como mimetismo, cuja finalidade é a camuflagem dos seres vivos no seu habitat ajudando-os a se disfarçarem como estratégia de proteção contra seus predadores, não, porém, para os de sua própria espécie, visando sua sobrevivência.

Esse mecanismo é produzido nas profundezas do inconsciente pelo seu psiquismo, pois acompanha todos os seres vivos na cadeia evolutiva, é uma das amostras que citaremos como exemplo de artimanhas para atingir seus objetivos maiores.
Se falarmos de sensualidade, somos, instintivamente, conduzidos à idéia de sexualidade, de fantasias, de prazeres e de lascividade, por força de uma cultura, especialmente, a ocidental.

Pavlov, através de suas pesquisas sobre o reflexo condicionado, ajudou-nos compreender como se processa o mecanismo entre os nossos sensores externos que levam ao centro do sistema nervoso central as informações das percepções do que nos rodeiam, condicionando-nos a uma série de hábitos adquiridos ao longo da caminhada que ficarão indelevelmente, arraigados à nossa personalidade ao que poderemos chamar de herança atávica.

Assim, é de fácil compreensão, como as informações são captadas pela visão, células olfativas e tácteis quando da aproximação do sexo oposto, onde são exacerbadas as sensações que levam o ser às elucubrações fantasiosas que permeiam a sensualidade que, quase sempre, não correspondem à realidade.

Esse desencadear de excitações e descontroles é elaborado pelo cérebro que, pela ação da adrenalina que lhe fora injetada na corrente sanguínea, tem a finalidade de encorajar o ser a partir para a destinação reprodutora, buscando, instintivamente, tão somente o prazer egoístico, entretanto, para atender-lhe o oculto instinto de reprodução, sem ter a mínima consciência deste fato. Este fenômeno se desenrola numa ambiência psicológica em nível animalesco, em cujo submundo, encontra-se a besta primordial. Está formada toda a susceptibilidade para serem desencadeadas todas as mais primitivas paixões.

Nesse clima conturbado, todas as máscaras de civilização não são levadas em conta, deixam-se cair e, poderosas forças são desencadeadas nesse redemoinho infernal em que a besta está na plenitude de sua irracionalidade, dando passagem às forças do psiquismo remoto que antecede a evolução biológica. Nessa vacuidade de razão e intelectualidade o ser está exposto ao desmoronamento total de sua aparente personalidade.

Esse espaço de abstrações nem sempre entendido pela ciência dá margem às superstições e terminologias mais absurdas, atribuindo-lhe a forças demoníacas ou maléficas, conforme a cultura de cada povo.

Envolto nessa atmosfera de irracionalidade o ser passa a agir de forma mais instintiva, mais animalesca; assume o centro do palco onde podem se desenrolar as mais aguçadas paixões. Neste ponto, todo o egocentrismo primitivo se aflora, a possívidade é a tônica, o parceiro torna-se o objeto dos seus desejos que não pode ser dividido por nenhum competidor. É defendido com unhas e dentes, como um cão defende a preza de cuja boca ninguém é capaz de retirar.

O psiquismo age silenciosamente nos bastidores, dispara, através dos canais neurológicos, a complexa rede de informações para o cérebro que, por sua vez, decodifica e passa aos milhões de células do organismo os impulsos devidamente elaborados que, sob o controle do sistema nervoso central vão levar essas instruções a cada unidade que, por sua vez, agirão em harmonia sem nenhum questionamento, pois tais ordens, são ignoradas pela razão do ser, fugindo-lhe do controle racional, absolutamente.

Todo o estudo da psicologia moderna foi revelado por Freud e seus discípulos onde apontam para ali enrustido nas maquinações da sexualidade, as milhares de causas e seqüelas que, no decorrer do tempo, acabam vindos à superfície oriunda do remoto inconsciente.

Na escala hominal, a visão exterior da sensualidade toma ares de extrema sutileza em que envolve beleza, estética e harmonia, numa quase abstrata revelação, envolta nessa névoa inebriante e perfumada tudo parece deslizar suavemente em paisagens deslumbrantes.

A evolução modelou no homem sua postura ereta, depilou sua pele cabeluda e suprimiu-lhe a calda. Deu-lhe ares mais angelicais. À mulher, além de tais progressos, foram-lhe acrescidos atributos curvilíneos aumentando-lhe a harmonia visual e a sensualidade, exercendo maior vigor aos estímulos visuais e eróticos ao sexo oposto.

A natureza foi demasiada generosa, conferiu-lhe, nas partes mais volumosas de sua anatomia o foco de maior efeito visual do ponto de vista da eroticidade, exato ali, o sutil disfarce para camuflar o ponto mais vulnerável da fisiologia humana, que poderia influenciar, negativamente do ponto de vista psicológico, comprometendo o ignorado acasalamento, região esta, em que são canalizadas suas excreções fisiológicas e, no entanto, tornou-se uma área de absoluta abstração, impondo ali, a beleza e a sensualidade, capaz de provocar fortíssimas sensações de estímulos sexuais para a atração do sexo oposto.

Não esquecendo que, tudo isso, deve-se ao psiquismo atuante sobre a morfologia biológica, sempre, como escopo? A perfeição.

Ao longo da evolução a natureza foi elaborando formas cada vez mais atraentes, no fundo, no fundo, objetivando a união dos opostos, não por capricho qualquer, mas, para um conducente determinismo irresistível que, inexoravelmente leva à reprodução das espécies.

Borboletas, pássaros multicoloridos, animais exóticos e uma gama de seres vivos das profundezas marinhas aos píncaros das cordilheiras são tangidos pela mesma torrente de animus, mesmo em tão baixos níveis da escala evolutiva, manifesta sinfonias de sons e cores que harmonizam a obra do Criador.

Perguntaram a Einstein como ele definia o cosmos. Ele respondeu: “Como um grande pensamento”.

Se o cosmos é um pensamento e é capaz de nos revelar o que chamamos matéria, o que entendemos como ponderável, porém, reduzível à energia (impalpável), poderemos deduzir que somos o produto de uma ideoplastia, por que não? Se pudermos transformar a matéria em energia, também, poder-se-ia fazer um inverso. Em assim sendo, o psiquismo que está no pensamento do Absoluto interage em nosso cotidiano e é responsável pela nossa evolução, não só do ponto de vista fisiológico, como também do psicológico, conduzindo-nos ao aprimoramento ético e moral

Em todos os fenômenos da natureza o psiquismo encontra-se ali presente, é um grande amplexo cósmico, tal como um grande Ímã, a induzir todas as criaturas para sua finalidade suprema que é o retorno às origens. Manifesta-se não somente às palpáveis criaturas materiais, mas, sobretudo a todas as manifestações cósmicas que interagem sobre os fenômenos sejam materiais ou psíquicos onde todos se aglutinam trabalhando para o aprimoramento do ser que se deixou cair e que, com seus próprios esforços, está lutando para se erguer ao longo do percurso de retorno de onde partira, ou seja, do centro, o Criador.
Herialdo Bastos

Autodidata

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